segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

Compaixão

Impressiono-me com a pouca capacidade de compaixão das pessoas, ou seja, pouca capacidade de compreender o estado emocional de outrem, de apresentar um sentimento de pesar ao ver os males alheios e, o mais importante, tornar-se acessível a essas pessoas de algum modo para que possam aliviar ou amenizar aquelas dores (mesmo que não mensuremos ou concordemos ou compreendamos por completo).
Eu abomino frases de "apoio" clichê como "se precisar de algo...", "qualquer coisa, me procura". Será, mesmo? Quantas pessoas do seu rol de amizades a quem você pode telefonar as três da madrugada aos prantos e relatar uma grande dor (pelo menos a você) sem receio de incomodar, sem julgado, atrapalhar o sono e o trabalho do dia seguinte?
Não falo das perturbações desimportantes, viciosas, de quem perde a noção e passar a incomodar um amigo. Falo daquelas que fazemos quando a alma quase que não suporta o peso que curva as costas. E não são rotineiras.
Mas eu sempre me coloquei assim às pessoas a quem dei acesso, a quem ofereci amizade. Estar disponível sempre (ainda que tivesse que acordar cedo pra trabalhar dia seguinte). Se a dor se abater as três da madrugada, que me procure justamente as três da madrugada e eu atenderei prontamente. Talvez não tire a dor, mas posso emprestar o ombro e ajudar a carregar aquilo que lhe pesa.
E, sem qualquer modéstia, não encontro seres que tenham essa disponibilidade de alma como eu tenho. Não sou melhor (mesmo, a vida é prova disso), mas, sim, o como gostaria de que vissem comigo.
Mas todos têm prioridades urgentes e mais importantes que as dores humanas. Inclusive aquelas pessoas de quem você mais espera. Curioso que, é mais comum receber um alento de alguém de quem a gente jamais esperou algo do que daquela pessoa que vice mais esperava calor humano.
O que pode, neste mundão afora, ser mais importante do que acalmar um coração desesperado, dolorido, ferido, machucado? Eu, realmente, não vejo situação que mereça mais atenção. Ainda que existam as atividades do dia, trabalho, compromissos, as dores que atingem a alma são tão pungentes, não é aceitável não haver um pequeno tempo do dia para alguém tentar acalmar o coração alheio.
Eu queria fazer deste espaço um local assim!

quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

Amor ao próximo: desmistificando (um pouco) da homossexualidade

Primeiramente, a pertinência do assunto de hoje é o amor ao próximo. O amor-respeito.
Tenho alguns anos de vida que me trouxeram experiências enriquecedoras.
Há algum tempo, eu (e muitas pessoas ainda hoje, especialmente aquelas que ignoram o assunto) acreditam que da homossexualidade decorre padrões comportamentais.
Aliás, a sociedade sempre criar padrões a serem seguidos, por mais esdrúxulos que sejam e não façam sentido. Enfim, esse é outro tema que não vem ao caso.
Entrei em contato com o mundo da homossexualidade mais recentemente por fazer uma grande amizade do meio. Uma pessoa absolutamente normal (o que pode ser uma afronta a minha gente). Alguém com virtudes, fragilidades, sentimentos, sofrimentos, ambições, humana, digna, pouco importando (a mim, pelo menos, que não era seu parceiro) a sua sexualidade. Importava-me sua conduta como amigo e pronto, sem maiores divagações ou julgamentos. Tive a alegria de encontrar um bom amigo. Poderia não o ser. Não por ser homossexual, por ser humano simplesmente. Mas o meu era (é) um bom amigo. Fui me desfazendo de noções pré-concebidas que me tinham sido impostas de que eram pessoas "anormais", diferentes, problemáticas ou qualquer coisa que o valha. Pelo contrário, fui tomada por sentimentos de amizade verdadeira, um ser humano interessante, preocupado com a vida, o mundo, as pessoas. Essas foram as primeiras barreiras quebradas em torno do "submundo" desconhecido a mim da homossexualidade.
Posso garantir que eu não tinha, até então, qualquer problema escancarado com a homossexualidade, mas internos que só conheci quando os desfiz, nessa relação de amizade. Aos poucos, paulatinamente, fui compreendendo o quanto somos (obviamente) parecidos e diferentes, como qualquer ser humano, independente do gênero ou orientação sexual (não vou me ater a debater terminológicos profundos).
E minhas descobertas não pararam por aí.
Sabe aquela pergunta que muita gente faz, até hoje, principalmente pessoas mais antigas, tradicionais e conservadoras, ao ver um casal gay, de "quem é o homem e a mulher da relação?"? Pois bem, essa resposta pode não existir.
O ser humano é mais complexo que isso.
Conhecendo um pouco das condutas de pessoas homossexuais (ou mesmo bissexuais) pude concluir que, como em qualquer outra relação social, não há um padrão único rígido.
Há pluralidade, diversidades.
O modelo homem x mulher é um deles entre tantos.
Certamente há o casal em que um deles assume o papel (e comportamento) do sexo oposto, mas há casais que não, que se gostam no corpo que vieram e do mesmo sexo em corpo alheio. Sem papéis definidos.
Claro que há algumas categorizações mais específicas, como em casos de transexuais que fazem cirurgia de alteração de sexo (órgão sexual em si). Neste caso, fica mais claro que a pessoa se sente confortável apresentando o sexo oposto daquele que nasceu.
Mas, em geral, não há papéis determinados. A concepção bíblica de homem e mulher (a qual não estou criticando, nem prestigiando, apenas citando) é limitada e não abarca as possibilidades que envolvem casais homossexuais.
Exemplificando, para esclarecer um pouco mais, talvez exista o homem que goste do corpo feminino, mas órgão sexual masculino (travestis); talvez exista a pessoa que se sente mulher, mas tem prazer sexual com órgão sexual masculino (travestis); talvez exista a mulher que gosta do corpo (e da feminilidade) de outra mulher etc. São tantas combinações que levaria um tempo para trazer um rol exaustivo, se é que existe.
Mas, esqueça o padrão homem x mulher, que é um ou pode nem existir.
Os seres humanos são belos pela conjugação de sua complexidade (cuja compreensão nos desafia) e simplicidade ao mesmo tempo, e devem ser respeitados pelo mero fato de sua condição humana, ainda que as opções alheias te sejam difíceis de entender ou incômodas.
Espero que este pequeno texto possa desfazer alguns equívocos e colaborar com o respeito ao próximo, por trazer mais subsídio para (tentar) compreendê-lo, ainda que não na essência.