Tenho que ser forte. Mas já estou com saudades. Como é traiçoeira essa porcaria de saudades. A razão diz "esqueça, agiu bem, siga em frente". E aemoção já comprou passagem, pulou atrasada no último vagão daquele trem vagaroso. Já está viajando. Lamenta o-quê-não-viveu. Certa vez conversava com um amigo, há muitos anos, sobre as dores do coração. Discutíamos delas qual dói mais, se a de ter perdido ou a de nunca ter vivido. Na época, ele conhecia e falava com propriedade da primeira - ter perdido - e eu da segunda - nunca ter vivido. Eu defendia veementemente a minha dor sem mesmo conhecer a dele. Isso aconteceu há uns doze anos. Meu amigo casou, tem filho, formou familia. Não sei se superou aquela perda. Diz-se por aí que não de todo. Casou-se com uma moça muito parecida fisicamente com aquele amor perdido. Não sei, perdemos o contato próximo. Eu não me casei. Mas, nesse meio tempo, que nem foi tao meio assim, pude vivenciar as duas dores. Da perda e do não-viver, além de bônus extra no quesito "dores emocionais". Li num lugar por aí "colecionaDOR". Eu adoro colecionar. Via sentido nesse destaque da palavra apenas ao fazer com ela referência ao desapego e os benefícios que ele pode trazer pra leveza humana. Mesmo assim, sem muito sentido profundo. Hoje, vi outra significação nessa escrita. Eu sei colecionar dores. E é viciante, como toda coleção. Quase uma obsessão. Quando a vida trouxe uma, e duas, e três, fui pegando o jeito de lidar com essa situação. Ela tornou-se conhecida e, pois, confortável, pra mim. Administrar o conhecido é relativamente fácil, estamos na nossa zona de conforto. O contrário da dor, em última instância, o amor, este passou a ser um desconhecido completo. E, como tal, temido. Assustador. Aterrorizante. Só uma vaga lembrança, reminiscências, aquelas que ficam carimbadas no nosso interior. Medo. Cheguei a preferir uma dor certa do que uma felicidade incerta, arriscada. Medo. E por hoje é só. Porque escrever alivia dores emocionais. E minha coleção me curva os ombros neste momento. Voltando ao assunto desviado: qual dor dói mais?
A não-vivida.
A dor do amor perdido punge certamente. Mas pelo simples fato de ter sido experimentada, aqueceu, fez calor, transformou. Fluiu, moveu, movimentou, transformou, frutificou. Nasceu, viveu, morreu. Sobreviveu, em alguns casos. Teve chance! É sim. Respirou, gritou no mundo, deu o ar da graça. Vibrou energias. Cumpriu algum tipo de missão. Uniu algo. Plenificou-se como pôde.
Ah... A dor de não ter vivido é triste porque é seca, infértil. É falta, é lacuna, é buraco. É não. É escuridão. É cheias de "e se..." E carrega uma bagagem pesada de expectativas frustradas. É nó, no peito, na garganta, que não desata. É castelo desmoronado, é casa mal-assombrada, é tempo mal-resolvido. É triste, é sofrência que demora da gente.