sábado, 6 de fevereiro de 2016

Do amor e das responsabilidadea sobre ele

"Não, meu bem, não adianta bancar o distante lá vem o amor nos dilacerar de novo..." (Caio F.)


E ele veio, e eu cai como um peixe bobo na rede pela primeira vez, ainda que não fosse. Mas acreditei que fosse a última. Estupidamente, crendo no para sempre.
Só eu, nesta pós-modernidade líquida de Baumann.
Tempo de desapego. Apegar-se é crime, um ilícito, um atentado social.
Acreditar no amor quando todas as condições são desfavoráveis, então, é o fim dos tempos. É atestado de idiotia.
E, aí, que se colocam vários rótulos para o sentimento daquele que sofre por um amor não correspondido: obsessão, compulsão, ego ferido, desejo frustrado etc. Além da própria negação sa concepção se amor, afeto porque pra isso "teria que ser bonito". Só que poder ser amor ninguém aceita. Nem lembra que a realidade não sobrevive de teorias.
E surgem as diversas teorias sobre amor. Válidas até. Relativas à pessoa que sente talvez.
O que sinto dói. A perda do ser amado dói. E é sobre isso que falo hoje.
Muito bonitas e equilibradas as teorias orientais, mas não resistem ao coração abandonado. Não ao meu, pelo menos.
Os sentimentos demoram em mim. A digestão não é instantânea. E nem poderia porque envolve tempo, escolhas, lutas, enfrentamentos. Tudo isso requer uma alta dedicação à vida a dois.
Há que se abdicar de algumas individualidades para escolher os dois. De ambos oa lados.
Essas gerações de pegar e desapegar...  Não me encaixo.
Fiquei pensando no que Padre Fábio de Melo falou, certa vez, sentimentos profundos demoram dentro da gente.
Numa ocasião, uma pessoa muito amiga me procurou dizendo estar mal por um sentimento de amor. Conversamos longamente num final de semana, quando o rompimento estava recente. Eu acreditei naquela dor. No final de semana seguinte, a pessoa me disse estar perdidamente apaixonada por outra pessoa e, inclusive, já estava se envolvendo com essa terceira.
Então pensei como couberam dois sentimentos tão profundos da mesna natureza por duas pessoas diferentes e, ao mesmo tempo tão efêmeros, num lugar só? A mim, não era. Fogo de palha.
No meu interior, o verdadeiro mantém-se.
Até pode adquirir certas feições que alguns estudiosos da afetividade humana nomeiam de outras coisas.
Mas ele resiste ao tempo e vai mostrando sua face. Perdendo as arestas mal aparadas. Os vícios. E fica o que é. Calmo e sereno.
Pode até se transformar. Pode não.
E perdura. E é perene. E finca raízes. E afronta até o tempo.
E fiquei pensando como teria sido um tanto aliviante poder falar sobre quem já se deparou com isso tudo. Já teve que enfrentar isso na carne nua e crua, sem ser considerado um louco. Ou ser, mas não ser marginalizado por isso. Caio. Hilda. Clarice. Que estejam em lugares melhores que o meu.
Concluo com um trecho de "Pequenas epifanias" de Caio F.:, a quem peço as palavras por não tê-las melhores:


"O que mais me deteve, do que pensei, era assim: a perda do amor é igual à perda da morte. Só que dói mais. Quando morre alguém que você ama, você se dói inteiro(a)- mas a morte é inevitável, portanto normal. Quando você perde alguém que você ama, e esse amor - essa pessoa - continua vivo(a), há então uma morte anormal. O NUNCA MAIS de não ter quem se ama torna-se tão irremediável quanto não ter NUNCA MAIS quem morreu. E dói mais fundo- porque se poderia ter, já que está vivo(a). Mas não se tem, nem se terá, quando o fim do amor é: NEVER." 

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