quinta-feira, 14 de novembro de 2013

Cenas antológicas de novela de amor - "Sossega o meu coração" de Alex de "Páginas da Vida"

As novelas, boas ou não, marcam a vida de todo mundo que tem televisão em casa.
Mesmo quem não as assiste, por apresentarem capítulos diários, a trilha sonora, as personagens vistas e/ou ouvidas diariamente quando passamos pela sala, ou estamos fazendo uma refeição, ou num outro cômodo ouvindo apenas o som de alguém assistindo-a em outro, de alguma forma ficam na nossa memória.
Percebo esse fato com nitidez quando as emissoras reprisam novelas mais antigas.
As músicas me fazem voltar no tempo, quase que me remetem àqueles dias em que a primeira edição fora passada e, com elas, as vivências daquela época.
Já cheguei a ter a sensação muito clara de "acabou a novela, agora tenho que fazer a tarefa da escola", mesmo após ter saído do escola há 20 anos! Nostalgia.
Falo disso tudo para demonstrar como são indeléveis as cenas de uma novela.
E, hoje, eu venho falar especialmente de uma cena a qual sempre assisto quando tenho saudades de alguém que já se foi.
É uma cena de capítulo final (todo último capítulo é obviamente tocante), mas que, a cada vez que assisto, me comovo. E cada comoção é diferente da anterior, pois a cada vez há outra perda e tal cena adquire novo significado.
Neste ano referida cena teve uma ressignificação muito peculiar pela perda que me trouxe a escrever neste espaço.
A dor da saudade não passa após o fim da cena, mas, a mim, uma certeza de reencontro que ameniza a pungência.
Indo à cena: trata dum encontro num parque de Alex, avô das crianças gêmeas Clara e Francisco, cuja mãe, Nanda, morreu no parto. Francisco fora criado pelos avós e Clara por Helena, a médica que fez o parto. As crianças foram criadas até então separadas. Naquele parque, os quatro "encontram" a mãe Nanda.
Eu diria as palavras de Alex muitas e muitas vezes.
Vejam:


"Nanda, filha, Nanda, aparece pra mim, deixa eu te ver mais uma vez, filha, pra matar um pouco a minha saudade. Sossega o meu coração, filha. Aparece pro teu pai. (...) Nanda, amor da minha vida, cuida bem de nós!"

Linda e Rafael de "Amor à Vida"

Tenho observado a relação das personagens Linda e Rafael da novela "Amor à Vida".
Linda é uma bela moça autista e Rafael um jovem advogado. O casal se conhece numa festa de casamento e passa a viver uma experiência única, uma relação sem nome, fora dos padrões tradicionais que vemos comumente na sociedade.
Ainda que se trate de um homem e uma mulher, o que poder-se-ia pressupor uma história de amor (ou não, já que histórias de amor não pressupõem a heteressexualidade), as (i)limitações do autismo de Linda fazem desse relacionamento algo livre de regras, de convenções, tratados sociais.
É algo pleno de liberdade (com o perdão do pleonasmo).
Naturalmente que a família de Linda se preocupa com as intenções de um rapaz "normal" diante da ingenuidade de uma garota como ela. Mas ao defender-se das proibições da família da garota, Rafael mostra sua conduta maior ante a pequenez medíocre criada na cabeça das pessoas e revela (parece-me sincero) o único desejo de estar perto de Linda pelo próprio prazer se estar. Sem expectativas, sem nada esperar, sem nada almejar. Estar ao lado de uma moça incomum tão-somente por estar. A despeito de ter as necessidades humanas dele satisfeitas (ou ainda que as necessidades humanas deles sejam justamente essas: desfrutar da presença dela, do quê, quanto e como ela pode oferecer).
Vejo nesse encontro de almas uma relação, como poucas, de liberdade.
Desprendida. Sem cobranças. Sem exigências. Sem nada a atingir. Sem metas a chegar.
Apenas valorizando o instante por ele mesmo, pela sua eternidade fugaz.
Algo sem nome. Isto foi o me marcou com profundidade.
A sociedade exige de todos nós que sigamos regras, condutas, comportamentos, posições.
Mas ter a liberdade para ser livre para viver algo que não ter nome deve ser realmente para poucos.
Lembrei-se da famosa frase de Clarice Lispector: "Liberdade é pouco. O que eu desejo ainda não tem nome."
Embora a citação mencione o desejo, uma paixão não tão libertária assim, talvez a frase tenha a ver com esse tipo de experiência livre de amarras, mas, certamente, de amor (no sentido amplo da palavra), possivelmente o único sentimento compatível e à altura da liberdade sem confrontá-la.
Eu, na minha precária humanidade, só posso admirar.


sábado, 2 de novembro de 2013

O borrifo

Ainda de luto, e até mesmo por esta fase ser muito difícil, fui fazer uma viagem para estar num lugar onde me sinto em plenitude: em alto mar para encontrar as grandes baleias.
Fiquei alguns dias a bordo e as gigantes estavam tímidas. Poucas avistagens, embora sempre encantadoras.
O borrifo de uma baleia ê a percussão mais linda que já ouvi. Reverbera no meu coração.
Levei uma blusa com a qual passei o meu último aniversário em companhia da minha avózinha na UTI (aliás, esse foi meu pedido ao cortar o bolo, justamente atendido).
Estava resistente em re-usar a blusa. As coisas são cheias de significados pra mim. Mas achei que era o momento. Afinal, estava num lugar importante, que merecia uma blusa importante.
Minha avó se foi em 2010 e, desde então, a blusa ficou guardada, sem uso, como lembrança daquele dia, como se não usando-a mais, a memória estaria ali, viva, guardada, sem ser apagada.
Até que, um dia, decidi colocar a camisetinha. A energia do dia foi outra! (E a minha também).
As baleias estavam amistosas, amigáveis, tranquilas.
Saltaram entre os barcos.
Tive certeza de que minha avó estava ali comigo (e a minha princesinha também).

Quando o amor esta perto do nunca

Estava ouvindo uma música, bem conhecida até, e nunca tinha me atentado para uma parte da letra que diz "(...) If I see you next to never (...) " (I will be right here waiting for you - Richard Marx).
E me conta de que é essa a sensacao que tenho quando a circunstância me coloca diante da possibilidade de perder um ser que amo (ou nem chegar a vivê-lo, mas seria outro longo devaneio): ver alguém próximo do nunca mais!
Ouvi quem dissesse que teve forças para aproveitar o tempo que lhes restavam da melhor forma possível. Acho admirável extrair forças para usufruir sem desespero a convivência que se esvai, que se sabe finita.
Outros dizem que se afundaram em fossas deprimentes,compreensível humanidade. 
Quando foi a minha vez, eu movi o mundo para reverter o destino que poderia ser implacável (e foi...). Cheguei em lugares onde não tinha chegado até então. Reuni forças das quais até então não tinha me socorrido. Supliquei, implorei, me ajoelhei literalmente. Fiz a minha parte e pedi que o Universo fizesse a dele.
A angustia, ansiedade, agonia, desespero eram maiores que eu e o peso me curvaram as costas, os joelhos. Sufocavam-me. Mas, do que poderia ser feito, eu fiz, mais é além, e, no mais, era espera, sem garantias. Apenas vê-la próxima do nunca. E esperar.
Já faz 9 meses. Não, eu não renasci nesse tempo.
Consegui ter pequenos momentos de alegrias, sorrir por alguma coisa,
Falo dela sem chorar (não sem sentir o peito apertando). Às vezes, ainda falo e choro, mas sem soluçar naquele choro incontrolável de antes. O choro é leve, mas resistente! Como correguinho intermitente, não seca, some, mas está sempre por ali dando sinal de vida. As lágrimas descem dos olhos até chegam no coração para milhas as flores que plantamos juntas.
A dor não passa. Só tenho me acostumado a lidar com ela, que continua ali, firme, tal qual meu amor por ela!