Tenho observado a relação das personagens Linda e Rafael da novela "Amor à Vida".
Linda é uma bela moça autista e Rafael um jovem advogado. O casal se conhece numa festa de casamento e passa a viver uma experiência única, uma relação sem nome, fora dos padrões tradicionais que vemos comumente na sociedade.
Ainda que se trate de um homem e uma mulher, o que poder-se-ia pressupor uma história de amor (ou não, já que histórias de amor não pressupõem a heteressexualidade), as (i)limitações do autismo de Linda fazem desse relacionamento algo livre de regras, de convenções, tratados sociais.
É algo pleno de liberdade (com o perdão do pleonasmo).
Naturalmente que a família de Linda se preocupa com as intenções de um rapaz "normal" diante da ingenuidade de uma garota como ela. Mas ao defender-se das proibições da família da garota, Rafael mostra sua conduta maior ante a pequenez medíocre criada na cabeça das pessoas e revela (parece-me sincero) o único desejo de estar perto de Linda pelo próprio prazer se estar. Sem expectativas, sem nada esperar, sem nada almejar. Estar ao lado de uma moça incomum tão-somente por estar. A despeito de ter as necessidades humanas dele satisfeitas (ou ainda que as necessidades humanas deles sejam justamente essas: desfrutar da presença dela, do quê, quanto e como ela pode oferecer).
Vejo nesse encontro de almas uma relação, como poucas, de liberdade.
Desprendida. Sem cobranças. Sem exigências. Sem nada a atingir. Sem metas a chegar.
Apenas valorizando o instante por ele mesmo, pela sua eternidade fugaz.
Algo sem nome. Isto foi o me marcou com profundidade.
A sociedade exige de todos nós que sigamos regras, condutas, comportamentos, posições.
Mas ter a liberdade para ser livre para viver algo que não ter nome deve ser realmente para poucos.
Lembrei-se da famosa frase de Clarice Lispector: "Liberdade é pouco. O que eu desejo ainda não tem nome."
Embora a citação mencione o desejo, uma paixão não tão libertária assim, talvez a frase tenha a ver com esse tipo de experiência livre de amarras, mas, certamente, de amor (no sentido amplo da palavra), possivelmente o único sentimento compatível e à altura da liberdade sem confrontá-la.
Eu, na minha precária humanidade, só posso admirar.
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