segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

Compaixão

Impressiono-me com a pouca capacidade de compaixão das pessoas, ou seja, pouca capacidade de compreender o estado emocional de outrem, de apresentar um sentimento de pesar ao ver os males alheios e, o mais importante, tornar-se acessível a essas pessoas de algum modo para que possam aliviar ou amenizar aquelas dores (mesmo que não mensuremos ou concordemos ou compreendamos por completo).
Eu abomino frases de "apoio" clichê como "se precisar de algo...", "qualquer coisa, me procura". Será, mesmo? Quantas pessoas do seu rol de amizades a quem você pode telefonar as três da madrugada aos prantos e relatar uma grande dor (pelo menos a você) sem receio de incomodar, sem julgado, atrapalhar o sono e o trabalho do dia seguinte?
Não falo das perturbações desimportantes, viciosas, de quem perde a noção e passar a incomodar um amigo. Falo daquelas que fazemos quando a alma quase que não suporta o peso que curva as costas. E não são rotineiras.
Mas eu sempre me coloquei assim às pessoas a quem dei acesso, a quem ofereci amizade. Estar disponível sempre (ainda que tivesse que acordar cedo pra trabalhar dia seguinte). Se a dor se abater as três da madrugada, que me procure justamente as três da madrugada e eu atenderei prontamente. Talvez não tire a dor, mas posso emprestar o ombro e ajudar a carregar aquilo que lhe pesa.
E, sem qualquer modéstia, não encontro seres que tenham essa disponibilidade de alma como eu tenho. Não sou melhor (mesmo, a vida é prova disso), mas, sim, o como gostaria de que vissem comigo.
Mas todos têm prioridades urgentes e mais importantes que as dores humanas. Inclusive aquelas pessoas de quem você mais espera. Curioso que, é mais comum receber um alento de alguém de quem a gente jamais esperou algo do que daquela pessoa que vice mais esperava calor humano.
O que pode, neste mundão afora, ser mais importante do que acalmar um coração desesperado, dolorido, ferido, machucado? Eu, realmente, não vejo situação que mereça mais atenção. Ainda que existam as atividades do dia, trabalho, compromissos, as dores que atingem a alma são tão pungentes, não é aceitável não haver um pequeno tempo do dia para alguém tentar acalmar o coração alheio.
Eu queria fazer deste espaço um local assim!

quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

Amor ao próximo: desmistificando (um pouco) da homossexualidade

Primeiramente, a pertinência do assunto de hoje é o amor ao próximo. O amor-respeito.
Tenho alguns anos de vida que me trouxeram experiências enriquecedoras.
Há algum tempo, eu (e muitas pessoas ainda hoje, especialmente aquelas que ignoram o assunto) acreditam que da homossexualidade decorre padrões comportamentais.
Aliás, a sociedade sempre criar padrões a serem seguidos, por mais esdrúxulos que sejam e não façam sentido. Enfim, esse é outro tema que não vem ao caso.
Entrei em contato com o mundo da homossexualidade mais recentemente por fazer uma grande amizade do meio. Uma pessoa absolutamente normal (o que pode ser uma afronta a minha gente). Alguém com virtudes, fragilidades, sentimentos, sofrimentos, ambições, humana, digna, pouco importando (a mim, pelo menos, que não era seu parceiro) a sua sexualidade. Importava-me sua conduta como amigo e pronto, sem maiores divagações ou julgamentos. Tive a alegria de encontrar um bom amigo. Poderia não o ser. Não por ser homossexual, por ser humano simplesmente. Mas o meu era (é) um bom amigo. Fui me desfazendo de noções pré-concebidas que me tinham sido impostas de que eram pessoas "anormais", diferentes, problemáticas ou qualquer coisa que o valha. Pelo contrário, fui tomada por sentimentos de amizade verdadeira, um ser humano interessante, preocupado com a vida, o mundo, as pessoas. Essas foram as primeiras barreiras quebradas em torno do "submundo" desconhecido a mim da homossexualidade.
Posso garantir que eu não tinha, até então, qualquer problema escancarado com a homossexualidade, mas internos que só conheci quando os desfiz, nessa relação de amizade. Aos poucos, paulatinamente, fui compreendendo o quanto somos (obviamente) parecidos e diferentes, como qualquer ser humano, independente do gênero ou orientação sexual (não vou me ater a debater terminológicos profundos).
E minhas descobertas não pararam por aí.
Sabe aquela pergunta que muita gente faz, até hoje, principalmente pessoas mais antigas, tradicionais e conservadoras, ao ver um casal gay, de "quem é o homem e a mulher da relação?"? Pois bem, essa resposta pode não existir.
O ser humano é mais complexo que isso.
Conhecendo um pouco das condutas de pessoas homossexuais (ou mesmo bissexuais) pude concluir que, como em qualquer outra relação social, não há um padrão único rígido.
Há pluralidade, diversidades.
O modelo homem x mulher é um deles entre tantos.
Certamente há o casal em que um deles assume o papel (e comportamento) do sexo oposto, mas há casais que não, que se gostam no corpo que vieram e do mesmo sexo em corpo alheio. Sem papéis definidos.
Claro que há algumas categorizações mais específicas, como em casos de transexuais que fazem cirurgia de alteração de sexo (órgão sexual em si). Neste caso, fica mais claro que a pessoa se sente confortável apresentando o sexo oposto daquele que nasceu.
Mas, em geral, não há papéis determinados. A concepção bíblica de homem e mulher (a qual não estou criticando, nem prestigiando, apenas citando) é limitada e não abarca as possibilidades que envolvem casais homossexuais.
Exemplificando, para esclarecer um pouco mais, talvez exista o homem que goste do corpo feminino, mas órgão sexual masculino (travestis); talvez exista a pessoa que se sente mulher, mas tem prazer sexual com órgão sexual masculino (travestis); talvez exista a mulher que gosta do corpo (e da feminilidade) de outra mulher etc. São tantas combinações que levaria um tempo para trazer um rol exaustivo, se é que existe.
Mas, esqueça o padrão homem x mulher, que é um ou pode nem existir.
Os seres humanos são belos pela conjugação de sua complexidade (cuja compreensão nos desafia) e simplicidade ao mesmo tempo, e devem ser respeitados pelo mero fato de sua condição humana, ainda que as opções alheias te sejam difíceis de entender ou incômodas.
Espero que este pequeno texto possa desfazer alguns equívocos e colaborar com o respeito ao próximo, por trazer mais subsídio para (tentar) compreendê-lo, ainda que não na essência.

quinta-feira, 14 de novembro de 2013

Cenas antológicas de novela de amor - "Sossega o meu coração" de Alex de "Páginas da Vida"

As novelas, boas ou não, marcam a vida de todo mundo que tem televisão em casa.
Mesmo quem não as assiste, por apresentarem capítulos diários, a trilha sonora, as personagens vistas e/ou ouvidas diariamente quando passamos pela sala, ou estamos fazendo uma refeição, ou num outro cômodo ouvindo apenas o som de alguém assistindo-a em outro, de alguma forma ficam na nossa memória.
Percebo esse fato com nitidez quando as emissoras reprisam novelas mais antigas.
As músicas me fazem voltar no tempo, quase que me remetem àqueles dias em que a primeira edição fora passada e, com elas, as vivências daquela época.
Já cheguei a ter a sensação muito clara de "acabou a novela, agora tenho que fazer a tarefa da escola", mesmo após ter saído do escola há 20 anos! Nostalgia.
Falo disso tudo para demonstrar como são indeléveis as cenas de uma novela.
E, hoje, eu venho falar especialmente de uma cena a qual sempre assisto quando tenho saudades de alguém que já se foi.
É uma cena de capítulo final (todo último capítulo é obviamente tocante), mas que, a cada vez que assisto, me comovo. E cada comoção é diferente da anterior, pois a cada vez há outra perda e tal cena adquire novo significado.
Neste ano referida cena teve uma ressignificação muito peculiar pela perda que me trouxe a escrever neste espaço.
A dor da saudade não passa após o fim da cena, mas, a mim, uma certeza de reencontro que ameniza a pungência.
Indo à cena: trata dum encontro num parque de Alex, avô das crianças gêmeas Clara e Francisco, cuja mãe, Nanda, morreu no parto. Francisco fora criado pelos avós e Clara por Helena, a médica que fez o parto. As crianças foram criadas até então separadas. Naquele parque, os quatro "encontram" a mãe Nanda.
Eu diria as palavras de Alex muitas e muitas vezes.
Vejam:


"Nanda, filha, Nanda, aparece pra mim, deixa eu te ver mais uma vez, filha, pra matar um pouco a minha saudade. Sossega o meu coração, filha. Aparece pro teu pai. (...) Nanda, amor da minha vida, cuida bem de nós!"

Linda e Rafael de "Amor à Vida"

Tenho observado a relação das personagens Linda e Rafael da novela "Amor à Vida".
Linda é uma bela moça autista e Rafael um jovem advogado. O casal se conhece numa festa de casamento e passa a viver uma experiência única, uma relação sem nome, fora dos padrões tradicionais que vemos comumente na sociedade.
Ainda que se trate de um homem e uma mulher, o que poder-se-ia pressupor uma história de amor (ou não, já que histórias de amor não pressupõem a heteressexualidade), as (i)limitações do autismo de Linda fazem desse relacionamento algo livre de regras, de convenções, tratados sociais.
É algo pleno de liberdade (com o perdão do pleonasmo).
Naturalmente que a família de Linda se preocupa com as intenções de um rapaz "normal" diante da ingenuidade de uma garota como ela. Mas ao defender-se das proibições da família da garota, Rafael mostra sua conduta maior ante a pequenez medíocre criada na cabeça das pessoas e revela (parece-me sincero) o único desejo de estar perto de Linda pelo próprio prazer se estar. Sem expectativas, sem nada esperar, sem nada almejar. Estar ao lado de uma moça incomum tão-somente por estar. A despeito de ter as necessidades humanas dele satisfeitas (ou ainda que as necessidades humanas deles sejam justamente essas: desfrutar da presença dela, do quê, quanto e como ela pode oferecer).
Vejo nesse encontro de almas uma relação, como poucas, de liberdade.
Desprendida. Sem cobranças. Sem exigências. Sem nada a atingir. Sem metas a chegar.
Apenas valorizando o instante por ele mesmo, pela sua eternidade fugaz.
Algo sem nome. Isto foi o me marcou com profundidade.
A sociedade exige de todos nós que sigamos regras, condutas, comportamentos, posições.
Mas ter a liberdade para ser livre para viver algo que não ter nome deve ser realmente para poucos.
Lembrei-se da famosa frase de Clarice Lispector: "Liberdade é pouco. O que eu desejo ainda não tem nome."
Embora a citação mencione o desejo, uma paixão não tão libertária assim, talvez a frase tenha a ver com esse tipo de experiência livre de amarras, mas, certamente, de amor (no sentido amplo da palavra), possivelmente o único sentimento compatível e à altura da liberdade sem confrontá-la.
Eu, na minha precária humanidade, só posso admirar.


sábado, 2 de novembro de 2013

O borrifo

Ainda de luto, e até mesmo por esta fase ser muito difícil, fui fazer uma viagem para estar num lugar onde me sinto em plenitude: em alto mar para encontrar as grandes baleias.
Fiquei alguns dias a bordo e as gigantes estavam tímidas. Poucas avistagens, embora sempre encantadoras.
O borrifo de uma baleia ê a percussão mais linda que já ouvi. Reverbera no meu coração.
Levei uma blusa com a qual passei o meu último aniversário em companhia da minha avózinha na UTI (aliás, esse foi meu pedido ao cortar o bolo, justamente atendido).
Estava resistente em re-usar a blusa. As coisas são cheias de significados pra mim. Mas achei que era o momento. Afinal, estava num lugar importante, que merecia uma blusa importante.
Minha avó se foi em 2010 e, desde então, a blusa ficou guardada, sem uso, como lembrança daquele dia, como se não usando-a mais, a memória estaria ali, viva, guardada, sem ser apagada.
Até que, um dia, decidi colocar a camisetinha. A energia do dia foi outra! (E a minha também).
As baleias estavam amistosas, amigáveis, tranquilas.
Saltaram entre os barcos.
Tive certeza de que minha avó estava ali comigo (e a minha princesinha também).

Quando o amor esta perto do nunca

Estava ouvindo uma música, bem conhecida até, e nunca tinha me atentado para uma parte da letra que diz "(...) If I see you next to never (...) " (I will be right here waiting for you - Richard Marx).
E me conta de que é essa a sensacao que tenho quando a circunstância me coloca diante da possibilidade de perder um ser que amo (ou nem chegar a vivê-lo, mas seria outro longo devaneio): ver alguém próximo do nunca mais!
Ouvi quem dissesse que teve forças para aproveitar o tempo que lhes restavam da melhor forma possível. Acho admirável extrair forças para usufruir sem desespero a convivência que se esvai, que se sabe finita.
Outros dizem que se afundaram em fossas deprimentes,compreensível humanidade. 
Quando foi a minha vez, eu movi o mundo para reverter o destino que poderia ser implacável (e foi...). Cheguei em lugares onde não tinha chegado até então. Reuni forças das quais até então não tinha me socorrido. Supliquei, implorei, me ajoelhei literalmente. Fiz a minha parte e pedi que o Universo fizesse a dele.
A angustia, ansiedade, agonia, desespero eram maiores que eu e o peso me curvaram as costas, os joelhos. Sufocavam-me. Mas, do que poderia ser feito, eu fiz, mais é além, e, no mais, era espera, sem garantias. Apenas vê-la próxima do nunca. E esperar.
Já faz 9 meses. Não, eu não renasci nesse tempo.
Consegui ter pequenos momentos de alegrias, sorrir por alguma coisa,
Falo dela sem chorar (não sem sentir o peito apertando). Às vezes, ainda falo e choro, mas sem soluçar naquele choro incontrolável de antes. O choro é leve, mas resistente! Como correguinho intermitente, não seca, some, mas está sempre por ali dando sinal de vida. As lágrimas descem dos olhos até chegam no coração para milhas as flores que plantamos juntas.
A dor não passa. Só tenho me acostumado a lidar com ela, que continua ali, firme, tal qual meu amor por ela!






terça-feira, 30 de julho de 2013

Dica de Fime: ET - O Extraterrestre

Dica de um filme da década de 80, de Steven Spielberg, que vai pacificar corações agoniados pela dor: ET - O Extraterrestre.
Já assisti muitas vezes, sempre fui fã, mas com uma perda grande, o signficado fica especial e mais terno.
A cada vez que assisto (e não canso!), a diferente bagagem de vida faz com que eu tenha outra visão da obra, tão ou mais bela quanto as anteriores!



Esse é um recurso realmente capaz de nos auxiliar a transformar nossa dor em calor!

terça-feira, 16 de julho de 2013

O choro

Quantas vezes, quando você estava triste e teve vomtade de chorar, ou mesmo estava chorando, ouviu um sonoro "não chora, não!"?
Naturalmente, falo das situações de tristeza, angústias, perdas, lutos, enfim, situações que justificam esse efeito fisiológico do organismo humano.
Quando se fala em funções fisiológicas, refere-se às funções físicas, orgânicas, bioquímicas que possuímos no estado saudável, equilibrado, normal de nosso organismo. Portanto, assim como todas as outras unções fisiológicas que ocorrem diariamente em todos os seres vivos, o choro também está dentre elas.
Não há, pois, porque inibi-lo. Se ele existe, tal como as outras funções, é porque tem sua importância, seu papel, ainda, e talvez sobretudo, pelo seu caráter biopsicosocial.
Quem já não sentiu um alívio, fisìco e mental mesmo, após ter chorado profundamente em virtude de uma dor da alma?
O choro não tem o poder de remover nossas dores
 emocionais, mas, sim, o de amenizar o estado de angústia que nos encontramos justamente por causa dessas dores! Permitir uma situação de apaziguamento psicológico, mesmo que por uns instantes, o suficiente para dar fôlego para continuarmos nossa jornada (difìcil) numa direção ou outra.

Como vimos, não se preocupe em ter que deixar de dar vazão a um choro. Liberte-se.

Ademais, geralmente, quem nos repreende sequer pode dimensionar as nossas razões de estar chorando.

Numa ocasião, eu chorava desesperadamente por duas razões sérias e graves: uma sabida por todos e outra, não (por motivos que não vem ao caso), ambas de naturezas diversas, mas muitíssimo doloridas. Um parente veio até mim e afirmou que era exagero, sem saber a realidade por trás daquelas lágrimas que marcaram (duplamente) a mimha vida no mesmo dia.

Não faça juízo de valor do choro alheio.

E você, cujo peito anda apertado e o olho marejado, chore.

As águas do rio correm para tornarem-se mar, jamais serão as mesmas.





quinta-feira, 11 de julho de 2013

Inspiração: Vitória de Cristo

Eu conheci a História da Vitória quando ela ainda tinha meses de vida. Fez um aninho, dois.
Mesmo virtualmente, apeguei-me à ela, à família (em especial à Sua Mãe Joana, sábia, iluminada e lutadora) e a história deles.
Num resumo simplista, Vitória nasceu com uma má-formação grave cuja Medicina diria sua existência extra-uterina ser incompatível com a vida. Digo resumo simplista pois o assunto é longo, polêmico, delicado e a intenção, aqui, não é abordar essas discussões, pelo menos não neste momento.
A propósito, Joana coloca em pauta com maestria muitas dessas questões envolvidas na História da Vitória no Blog que criou para ela Amada Vitória de Cristo. A leitura, ainda que de trechos, é recomendada sem dúvida.
Quando Vitória se foi, eu senti como se alguém muito próximo tivesse partido (e era, ainda que não fisicamente).
Enfim, vim indicar um dos maiores exemplos que já conheci de transformação de dor em calor.
A cada postagem da Joana podíamos sentir muito forte essa transmutação.
Acredito que a leitura do Blog possa, inclusive, auxiliar quem esteja passando por problemas difíceis com seus filhos, sejam quais forem, e mesmo aos que partiram.
Em tempo, poucos dias antes de a Vitória partir, foi feito um filme curta sobre a História dela.





Eu, Vitória

Dê-me a sua mão, pois não consigo sentir isto só

Certo dia, ouvi uma pessoa sábia falar sobre uma criança, então cega, que voltara a enxergar e que, diante da imensidão do mar visto pela primeira vez disse ao pai:
_ "Pai, me dê a sua mão, me ajude a enxegar tudo isso!"
Pois bem, a criança, ao deparar-se, pela primeira vez, com uma imagem contemplativa que a natureza formosamente lhe oferecia, entendeu que aquela cena abrigava exuberância demais para ser vista, olhada, enxergada, sentida sozinha. E, assim, necessitou dividir essa experiência por meio do gesto simbólico de pedir a mão de seu pai, como forma de acolher todas as sensações de plenitude que extravazavam dela só, não nela cabiam.
A dor da perda é assim, às avessas.
Tão grande, tão perfurante das estranhas mais profundas do ser que o desejo é de gritar para alguém, como aquela criança, "ei, você aí, divida comigo esse sentimento que me fere tanto, está difícil carregar sozinho!".
Parece que o peito vai explodir. Implodir, de dentro para fora.
Muitas vezes, não temos a quem recorrer e pedir a mão ou o ombro. Ou porque não tem tempo para isto; ou vai medir com os critérios dele a nossa dor; ou porque não nos cai compreender (ainda que tente).
E fica aquele nó (de marinheiro) na garganta.
Até que uma onda grande (pode ser de muitas lágrimas) passe e desfaça-o.

Como lidar com um diagnóstico ruim?

Escrevi este texto logo que recebi um diagnóstico sombrio, que me trouxe dúvidas, incertezas, medo, muito medo.
Na época, achei que deveia escrever sobre tudo o que estava sentindo e guardei. Agora venho compartilhar a quem possa interessar para, quem sabe, amenizar o sofrimento de quem está em vias de receber eu recebeu um diagnóstico ou prognóstico negativo.


Como lidar com um diagnóstico ruim?

Quando a gente está esperando por um resultado de exame que pode revelar algo mais sério (uma doença grave, uma chance de cura inviável, uma expectativa frustrada) passa os dias antecedentes tenso, aflito, angustiado, ansioso, insone etc.
Passam pela nossa cabeça inúmeras possibilidades, desde as mais esperadas e previsíveis até as mais inesperadas, inexplicáveis, mágicas. Como seria bom se uma varinha mágica pudesse tocar aquele laudo e transformar o que for em algo bom!
O fato é que, enquanto esperamos, passamos a imaginar como seria se o resultado der isso ou aquilo e prepararmo-nos para o pior, na medida do possível, caso isto realmente aconteça, numa espécie de defesa da sobrevivência menos dolorida, de não ser pego pelo inesperado que machuca.
Entretanto, quando a gente se depara com o resultado que não queremos, certamente não estaremos preparados para ficarmos tranquilos, agir de forma racional, tranquila, serena, não precipitada. A primeira reação, apesar de depender muito de cada pessoa, costuma ser um tipo de ausência de reação.
É o momento em que as "fichas vão cair", o assunto vai começar a ser assimilado, digerido. Bem provável que as únicas sensações que sentiremos um soco na boca do estômago, um buraco negro sob o chão, um aperto no peito, uma escuridão sem fim.
E o exercício mental que foi feito antes como preparo? Nesse momento, ele fica suspenso.  Como se o choque da notícia impedisse o acesso cognitivo às possibilidades da nova realidade que existirá a partir daquele momento.
E então a gente chora, entristece-se e cada um age conforme sua personalidade.
Somente depois de um certo tempo, algumas horas eu diria, é que os pensamentos voltam a se organizar. O acesso à luz vai sendo desobstruído aos poucos e começamos a enxergar que ainda há alternativas, possibilidades, opções, sempre, independente do que se trata (não é fácil se convencer disso, principalmente quando se está muito próximo do notícia), mas sim, a luzinha no fim do túnel vai aparecer!
Miúda, timída, mas vai! E, gradualmente (e em conformidade com diversos fatores que podem influenciar), ela vai ganhando força, robustez, vivacidade e acalmar o nosso coração - o que realmente precisamos nessas fases difíceis!
Não há conhecimento técnico, científico, médico que seja capaz de tranquilizar (total e satisfatoriamente) um coração aflito nessas situações. A força genuína vem apenas de dentro da gente. Uma palavra amiga sábia pode contribuir para que ela emirja, venha à tona, mas a sua origem é o nosso interior, mesmo!
Um exemplo para fortalecer e dar credibilidade às minhas palavras: minha avó querida teve câncer de esôfago em idade avançada com recidiva (tratou e voltou). Esse tipo de câncer é considerado, segundo os médicos, agressivo, de evolução rápida e praticamente incurável. O primeiro diagnóstico foi crudelíssimo: não tem solução. A jornada foi longa, difícil, buscamos outros profissionais (preparados técnica e emocionalmente para tratar um paciente assim - e a família dele,), foram feitos os tratamos possíveis e, sim, ela ficou curada! Considerada curada pela Medicina cética. (O caso foi até para estudos oncológicos devido a raridade).
Não é fácil, mas nem impossível e nada está perdido!

Boa sorte! o texto e guardei. 

sábado, 6 de julho de 2013

O Começo


Perdi pessoas amadas e próximas, passei pelo luto e respectivo sofrimento de cada uma delas. De pessoas mais distantes também, queridas. Cada vez que nos separamos desta vida terrena de alguém que nos é importante sofremos de alguma forma, de alguma maneira, em alguma proporção. As reações são diferentes e não podem ser medidas, pois não sentimos igual ao outro.
Tive uma perda que me doeu diferente. Não mais, nem menos do que das outras vezes, mas duma forma pungente (dolorida) com a qual tive/tenho dificuldade de lidar, aceitar. Não há que se criar um juízo de valor para esse tipo de sentimento (julgar se é "bobeira", por exemplo, atribuir um valor positivo ou negativo). Simplesmente porque cada um tem uma história de vida, um repertório pessoal, uma criação, valores diversos, circunstâncias pessoais que distinguem a trajetória pessoal das demais pessoas do mundo e fazem todo ser humano único e que sente de modo único. Por isso, não há uma régua igual e fixa a ser utilizada para todos sem injustiças.
Foi uma perda de um ser especialíssimo para mim, com o qual possuo um elo transcendental. A morte foi precoce, traumática, de uma forma abaladora e perturbadora internamente. Naquele dia, senti todas aquelas sensações que a gente costuma imaginar que vai sentir se mãe ou pai morrer quando somos crianças e morrer também: desespero, sem chão, ânsia, vertigem, enjôo, sensação de desmaio, visão escura, desequilíbrio total do organismo e dor, física mesmo, no coração.
Mas aconteceu e eu sobrevivi. E agora? Como lidar com a dor que fica? Uma dor que parece não caber dentro de nós, mas que não há outra solução se não enfrentá-la?
Diante dessas minhas inquietudes todas, criei esse espaço para tentar transformar em calor a dor que carregamos. A minha vem de uma perda. Mas você é bem vindo independente da origem da sua!